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quinta-feira, 31 de maio de 2012

VIAGEM AO FUNDO DO MAR









Richard Basehart (E), David Hedison, Del Monroe, Terry Becker e Robert Dowdell (Foto Fox/Arquivo)
Irwin Allen foi um dos produtores que reinventaram o gênero aventura para a televisão. As quatro séries produzidas por ele, na década de 1960, se transformaram em um marco, permitindo novas possibilidades para a exploração do gênero na TV.
Tendo um orçamento limitado, as produções televisivas perdiam para os filmes do cinema. Mas, na década de 1960, as superproduções cinematográficas começaram a cair em declínio, dando lugar a filmes mais intimistas e alternativos, fortemente influenciados pela produção europeia. Essa linha narrativa também chegou à TV, com séries dramáticas questionando o valor da sociedade, do governo e da vida. Mas também foi nesse período que a ficção científica passou a se dedicar mais ao público adulto.
Na década de 1960, com a corrida espacial dominando o imaginário do público e a abertura conquistada por produções como “Além da Imaginação” e “Quinta Dimensão”, um número maior de séries desse gênero surgiram. Assim, Irwin Allen trouxe para a TV o entretenimento das produções blockbusters. Suas séries ficaram marcadas como superproduções que dominavam a telinha. Todas utilizavam cenários grandiosos, alguns dos quais impressionam até hoje. Temos como exemplo “Terra de Gigantes”, a quarta série desta safra, também composta por “Viagem ao Fundo do Mar“, “Perdidos no Espaço” e Túnel do Tempo”.
Conhecido na década de 1970 como o mestre do cinema catástrofe, graças a filmes como “O Destino do Poseidon” (e sua sequência), “Inferno na Torre” e “O Dia em que o Mundo Acabou”, Irwin Allen deu início a uma carreira de sucessos na TV com a versão de seu filme “Viagem ao Fundo do Mar”.
Interessado pela vida marinha e vencedor do Oscar pelo documentário “The Sea Around Us”, de 1951, Allen escreveu e produziu o filme “Viagem ao Fundo do Mar” em 1961, para a 20th Century Fox. Visivelmente influenciado pela obra de Julio Verne, Allen introduziu ao público da época as aventuras de um submarino nuclear, que tinha a função de pesquisar a vida marinha e seus benefícios para a humanidade.
A história do filme tem como base a descoberta do Cinturão de Van Allen ocorrida em 1958. Trata-se de uma região no espaço que concentra partículas no campo magnético da Terra, provocando vários fenômenos atmosféricos. O nome do Cinturão foi uma homenagem ao Dr. James Van Allen, que conduziu as pesquisas que levaram à sua descoberta.
Impressionado com o fato, Irwin decidiu escrever um filme explorando a ideia do que poderia ocorrer caso as radiações provocadas pelo Cinturão atingissem a Terra em sua totalidade. Assim, na versão cinematográfica, a tripulação do submarino Seaview (que traduzindo significa ‘vista para o mar’) precisa salvar a Terra da ameaça de uma total incineração provocada pela radiação do cinto de Van Allen.
Com roteiro assinado por Allen e Charles Bennett, o filme foi estrelado por Walter Pidgeon, que interpretou o Almirante Nelson, responsável pela Fundação Nelson de Pesquisas Submarinas, que criou o Seaview.
A bordo estavam o Capitão Lee Crane (Robert Sterling), Comandante Lucius Emery (Peter Lorre), Tenente Chip Romano (Frankie Avalon), Tenente Cathy Connors (Barbara Eden, de “Jeannie é um Gênio”), que era a noiva de Crane, Dra. Susan Hiller (Joan Fontaine), psicóloga, e Miguel Alvarez (Michael Ansara, marido de Eden na vida real), cientista civil.
Bem como o restante da tripulação, na qual se encontravam os marinheiros Kowski (Del Monroe) e Smith (Mark Slade). Apenas os dois últimos atores migrariam para a série de TV, sendo que o personagem de Monroe passou a ser chamado de Kowalski e o de Slade, visto apenas na primeira temporada, chamava-se Malone.
O sucesso do filme fez com que Allen oferecesse ao estúdio o projeto de uma adaptação para a TV. Apontando a vantagem de que nenhum custo extra seria necessário para a fabricação do cenário e maquetes, Allen conseguiu a autorização do estúdio para produzir a série. Não querendo ficar preso a uma série, Walter Pidgeon recusou-se a voltar a interpretar o Almirante Nelson. Em seu lugar foi contratado Richard Basehart, mais jovem que Walter, mas com uma impressionante carreira no teatro e no cinema.
O ator esteve em clássicos como “A Estrada da Vida”, de Federico Fellini, “Os Irmãos Karamazov” e “Moby Dick” antes de migrar para as séries de TV no início dos anos de 1960. Depois de algumas participações especiais em várias séries de sucesso da época, Basehart aceitou estrelar “Viagem ao Fundo do Mar”, com o objetivo de conseguir dinheiro para produzir suas peças no teatro.  Sua presença no elenco convenceu David Hedison a aceitar o convite de Allen para interpretar o Capitão Lee Crane, substituindo Sterling. Na versão para a TV, Crane não tinha noiva, ficando livre para viver suas aventuras e se envolver com outras mulheres. Curiosamente, Hedison tinha sido a primeira escolha de Allen para o personagem no cinema. Mas o ator recusara o papel.
No lugar de Peter Lorre entrou  Henry Kulky, que interpretou o Chefe Curley Jones. Quando o ator morreu, em 1965, foi substituído por Terry Becker, que interpretou o Chefe Sharkey, personagem originalmente oferecido a James Doohan, que preferiu trabalhar em “Jornada nas Estrelas”, onde deu vida ao personagem Scotty. Em substituição ao ator e cantor Frankie Avalon, Allen contratou Robert Dowdell, como Tenente Chip Morton.
Entre os coadjuvantes estavam Paul Carr, como Bill Clark e posteriormente interpretando diferentes membros da tripulação; Derrick Lewis e Gordon Gilbert, alternando-se como o marinheiro O’Brien; Paul Trinka, como Patterson; Arch Whilling, como Sparks, responsável pelas comunicações; Richard Bull, como o médico de bordo; e Nigel McKeand, operador de sonar, que no episódio piloto foi interpretado por Christopher Connelly. O ator Allan Hunt uniu-se ao elenco a partir da segunda temporada, como Stu Riley.
A primeira temporada começou a ser filmada em novembro de 1963, estreando em setembro de 1964. Apenas o episódio piloto foi filmado a cores, os demais foram feitos em preto e branco. O motivo era simples. Ao vender a ideia para o estúdio, Allen alegou que poderia reutilizar cenas do filme, em especial aquelas que mostravam o submarino e o fundo do mar, poupando os gastos para a produção da série.
O submarino, criado por Jack Martin Smith, Herman Bluementhal, Lyle Abbott e Herbert Cheek, era a principal ‘estrela do show’. Sem conseguir o apoio da marinha, que temia revelar segredos em função da Guerra Fria, a equipe precisou recorrer a antigos filmes bélicos para criar o Seaview.
Sem ter visto um submarino por dentro e sem ter acesso às plantas, a equipe também fez uso dos recursos do Museu de Ciências de Chicago onde, através de visitas em grupos turísticos, faziam rápidas anotações e desenhos do interior de submarinos alemães, capturados no final da 2ª Guerra. Tudo às escondidas para não levantarem suspeitas.
Mais tarde, a produção do filme conseguiu o apoio da Marinha, que chegou a enviar representantes para visitarem os cenários e darem opiniões. Quando a série foi produzida, a equipe responsável pela criação do Seaview não estava mais disponível. Utilizando os mesmos cenários, a série continuou atraindo o interesse de militares, entre eles, o então Presidente do Brasil Marechal Costa e Silva, que em 1967 visitou os bastidores de produção da série.
Situada uma década à frente, a primeira temporada trouxe histórias que exploravam tramas de espionagens e complôs, ambientadas em um cenário de ficção científica, em função da presença do submarino nuclear e seu arsenal. Alguns dos planos dos vilões vistos nesses episódios também acrescentavam uma visão futurística, na maioria das vezes mantendo-se dentro dos limites das possibilidades científicas.
Na época, os roteiristas não estavam acostumados a escrever para esse tipo de programa. Assim, produziam textos que giravam em torno daquilo que conheciam, com a diferença que as histórias eram situadas dentro de um submarino nuclear. Já na primeira temporada, começaram a surgir episódios que traziam monstros e seres espaciais, que destoavam na narrativa dos demais. Mas esse tipo de história passou a dominar a produção da série quando ela foi renovada para a segunda temporada, ganhando episódios a cores.
Buscando elevar sua audiência, Allen optou por roteiros mais voltados à ficção científica e à aventura, tendo em vista que produções como “O Agente da UNCLE”, que se apoiava na paródia explorando elementos de fantasia, ganhava cada vez mais popularidade. Assim, Allen alterou radicalmente o rumo de “Viagem ao Fundo do Mar”.
Trazendo roteiros que passaram a ser popularmente conhecidos como ‘o monstro da semana’, os episódios também trouxeram um novo veículo: o subvoador, que permitia aos membros da tripulação saírem do submarino para chegar mais rápido em Terra, ampliando as possibilidades de novas aventuras. Para acomodar o veículo à bordo, os cenários da sala de observações foram alterados, permitindo a inclusão de uma escotilha, que levava ao subvoador.
A série manteve sua popularidade, entrando em seu terceiro ano de produção. No entanto, nessa época, a rede ABC, que exiba “Viagem ao Fundo do Mar”, anunciou cortes no orçamento. Desta forma, foram reduzidos os gastos com efeitos especiais, cenários, figurinos e equipe de roteiristas. Profssionais já contratados pelo estúdio substituíram aqueles que formavam  a equipe da série e foram dispensados (alguns foram parar na série “Missão: Impossível”). Os roteiros também contavam com os serviços de free lancers de baixo custo. Como resultado, aumentou o número de episódios com monstros e a reutilização de cenas já filmadas para a série ou outras produções da Fox.
Renovada para a quarta temporada, a série já estava com ‘seus dias contados’. Nem tanto pela audiência, que ainda era boa, mas pelo desgaste e descontentamento de seus protagonistas, Richard Basehart e David Hedison, que manifestavam estar cansados do tipo de roteiros que lhes eram oferecidos.
Porém, o que pode ter determinado seu final foi o interesse de Irwin Allen em produzir “Terra de Gigantes”, série que tinha um orçamento elevado para a construção dos cenários e filmagens dos roteiros. Nessa época, a Fox produzia três séries de Irwin Allen: “Viagem ao Fundo do Mar” (ABC), “Perdidos no Espaço” (CBS) e “Túnel do Tempo” (ABC). Embora não exista uma razão única e definitiva para o cancelamento dessas produções, as negociações para conseguir produzir “Terra de Gigantes” podem ter determinado o fim de cada uma delas.
As séries “Viagem ao Fundo do Mar” e “Perdidos nos Espaço” saíram do ar em março de 1968, enquanto que “Túnel do Tempo”, que tinha uma audiência menor, exibiu seu último episódio em abril de 1967. “Terra de Gigantes” estreou em setembro de 1968, mas seu alto custo determinou o fim da série, que foi cancelada em 1970.
“Viagem ao Fundo do Mar” teve um total de 110 episódios produzidos. Passando de thriller psicológico para série de aventura e fantasia, a produção conseguiu se transformar em uma das mais populares e cultuadas pelos fãs do gênero.  Episódios como “O Exílio”, “O Motim”, “Os Inimigos”, “A Vigília da Morte”, “A Nave Fantasma”, “O Soro da Juventude”, “O Homem das Mil Faces”, “A Bomba Humana”, “Fuga de Veneza”, “As Bonecas Mortais” e tantos outros, fazem parte da memória afetiva de uma geração.
A série já teve seus episódios lançados em DVD no mercado americano. O segundo e último volume, da quarta temporada será disponibilizado em janeiro de 2011. Por aqui, ‘nem cheiro’. Segundo a distribuidora Fox, eles não estão autorizados a lançarem as produções de Irwin Allen no Brasil.
Mesmo sabendo que teria boa venda, à exemplo de “Perdidos no Espaço”, que após seis anos de seu lançamento original ainda parece dar lucro à distribuidora (que continua disponibilizando novas unidades no mercado), a Fox não libera os demais títulos produzidos por Irwin Allen para a TV.
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